Sunday, November 16, 2008

Justificativa

Caros amigos que reconhecem a importância da filosofia de Platão, o que justifica o nome dado a este blog pode ser resumido no que pude expor na introdução de um artigo publicado na revista de Filosofia da Ufmg (Kriterion 116, accessível em www.scielo.br):
“Já não é sem tempo colocar em questão se a filosofia platônica deve ser compreendida como dualista, ou seja, se ela teria estabelecido uma série de oposições duais, e não distinções em inter-relação. Inúmeros são os autores que sustentam que Platão teria separado dois mundos – o mundo sensível e o mundo das Idéias –, bem como duas instâncias do homem – corpo e alma –, assim como duas partes na alma – uma parte mortal e uma parte imortal, ou, ainda, desejo versus razão – recebendo, por isso, o título de racionalista.(...)
Uma objeção poderia ser colocada quanto ao significado de “dualismo”, pois este termo pode ser compreendido apenas como distinção entre dois elementos. Sem dúvida, não estamos negando que Platão distingue, em várias passagens, corpo e alma, sensível e inteligível, raciocínio e apetite. Posicionamo-nos contra a atribuição de um “dualismo” à filosofia platônica no sentido de que ela sustentaria várias separações radicais entre dois únicos e impermeáveis elementos. Estamos reconsiderando tais distinções qualitativamente e quantitativamente, levando em conta a inter-relação e a unidade entre elas, garantida por um terceiro elemento, intermediário, conforme podemos observar no texto platônico, dentre os quais destacamos a República e o Timeu.
Poder-se-ia objetar também que há, aqui, uma questão hermenêutica: ler um texto é interpretá-lo e nossa interpretação não estaria livre de encontrar-se distante do que teria sido a expressão e a intenção de Platão, nem estaria livre de equívocos com relação à compreensão do próprio texto grego. Estamos cientes disso e é exatamente dentro de tais limitações, e diante dessas dificuldades, que pretendemos seguir o rastro de algumas passagens de certos Diálogos para defender a hipótese de que a filosofia de Platão deve ser reconhecida como, no mínimo, “triádica”, por identificar relações de mediação entre os diversos elementos que compõem a realidade. É nesse sentido que sugerimos que, antes de avaliar a possibilidade de uma nova interpretação de Platão a partir da hipótese de doutrinas não-escritas, deve-se buscar entender os textos escritos por esse filósofo e realizar uma (re) leitura das concepções presentes no próprio texto platônico.” (REIS, 2007, p.379-381). Artigo completo no scielo.

3 Comments:

Flávio Souza said...

Muito legal ver estes primeiros passos do Platão Dualist.... ops.... do Platão que não era dualista!!!
hehehe

Dulce - acho que vc irá gostar muito deste meu último post aqui

http://adcummulus.blogspot.com/2008/11/inscrio-samaliana-e-separao-da-alma.html

é sobre a separação da alma!

abração!

Flávio Souza said...

Aqui está parecendo uma tumba, Dulce!

Dá um jeito de publicar!!!

Queremos te ler!

Unknown said...

Que legal, Flavinho! Interessantíssima a descoberta. E vc entende de tudo (como dizem nossos parentes), heim? Um grande abraço,
Dulce.